Para conseguir recursos financeiros para o novo programa social Renda Cidadã, que deve substituir o Bolsa Família, criado por Lula, o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) ataca direitos de 17 milhões de crianças da educação básica do país.
Em proposta que será encaminhada ao Congresso Nacional, o
governo prevê a transferência para o Renda Cidadã de R$ 8 bilhões ao ano, ou 5%
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb), destinados investimentos em creches e
educação básica de mais de 2.700 municípios.
A falta de limites de Bolsonaro em fazer propostas como esta
é considerada “escandalosa”, pelo presidente da CUT, Sérgio Nobre. Para ele,
“Bolsonaro está propondo tirar recursos da população pobre para transferir aos
paupérrimos, apesar de dizer que não faria isso”.
O dirigente afirma ainda que há outras formas de combater a
desigualdade social no país. Segundo Sérgio Nobre, o governo deveria rever o
teto de gastos públicos, que congelou investimentos por 20 anos, e, então,
buscar a taxação de grandes fortunas e grandes patrimônios.
"É escandalosa a concentração de renda no Brasil e é
escandaloso esse tipo de proposta", afirmou o presidente da CUT, em
entrevista ao jornalista Leonardo Sakamoto.
O objetivo de Bolsonaro é eleitoreiro, já que as últimas
pesquisas mostraram um ganho de popularidade após o pagamento do auxílio
emergencial de R$ 600,00, aprovado pelo Congresso Nacional em março – Bolsonaro
queria pagar menos de R$ 200,00. Como ele está de olho na reeleição de 2022
quer utilizar a assistência social para continuar no poder, acredita o
presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE),
Heleno Araújo. A entidade publicou nota denunciando os ataques à educação
feitos pelo presidente da República.
“Bolsonaro é um presidente que não trabalha, só prejudica e
destrói patrimônio público. Mas como ele vislumbrou na renda emergencial o
aumento da sua popularidade quer se agarrar nisso, para chegar a um segundo
turno em 2022”, critica Heleno.
Para o presidente da CNTE, a ação além de eleitoreira, é uma
pedalada fiscal, que motivou o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, mas
que agora Bolsonaro quer burlar.
“É pedalada porque mexe com a estrutura financeira da União,
para burlar a Emenda Constitucional 95 , que ele sempre defendeu. Mas,
Bolsonaro não imaginava a reação da elite econômica e dos sindicalistas e
profissionais da educação”, diz Heleno.
O presidente da entidade ressalta que a CNTE é a favor da
queda da EC 95, mas que os recursos da educação não sejam utilizados para
outras áreas. Heleno também se referiu à reação do mercado financeiro, com a
queda na Bolsa de Valores e ao aumento do dólar, após o anúncio do Renda Cidadã
, já que a proposta do governo mexe com o pagamento dos precatórios, ações
ganhas na Justiça por aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) que tiveram negadas concessão ou reajuste do benefício,
devidos pelo governo
Não pagamento de precatórios prejudica Educação
Heleno Araújo diz que a proposta do governo em utilizar
recursos destinados ao pagamento de precatórios vai prejudicar também estados
do Nordeste e os estados do Amazonas e Pará, na região Norte do país. Segundo o
dirigente, esses estados tinham direito a repasses da União para a educação
quando vigorava, até 2003, o Fundo do Ensino Fundamental (Fundef). Como esses
recursos não chegaram aos municípios desses estados, eles entraram com ação na
Justiça pelo não cumprimento da lei e ganharam. Esse pagamento se dá por meio
de precatórios.
“Ao atrasar esses repasses dos precatórios, Bolsonaro está
prejudicando a educação e os professores do Nordeste e dos estados do Amazonas
e Pará”, afirma o presidente da CNTE.
É a segunda vez que Bolsonaro tenta meter a mão na verba do
Fundeb
Para o presidente da CNTE, a proposta de retirar verba da
educação básica para o programa Renda Cidadã, já era um caso pensado por parte
do governo, durante a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº
15/2015 do Fundeb, aprovada pelo Congresso Nacional, em 25 de agosto deste ano
e que precisa ainda de regulamentação. Segundo Heleno Araújo, foi o próprio
governo que nas negociações no Congresso, propôs que 5% do que fosse aprovado
iriam para a educação básica. .
“Para conseguirmos chegar a 23% de repasses da União para a
educação até 2026, o governo queria em troca que 5% seriam destinados à
educação infantil. Achamos estranho, mas como eles chegaram a aventar a
possibilidade de criar um voucher para que pais de alunos pagassem uma creche
particular, consideramos a proposta razoável, e ela foi aprovada. Hoje tenho
certeza que era uma manobra”, afirma Heleno.
O ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, chegou a
defender durante a campanha eleitoral de 2018, que 5% da verba da educação
fossem destinados ao pagamento de "vouchers" para a população mais
pobre usar em creches particulares, com o discurso de que economizariam
recursos com escolas públicas e o pagamento de professores.
CNTE vai ao Supremo se Congresso aprovar medida
Para que os R$ 8 bilhões anuais do Fundeb sejam transferidos
ao programa Renda Cidadã é preciso que o Congresso aprove a proposta do
presidente da República, com pelo menos dois terços dos votos, tanto do Senado
como da Câmara. Ainda assim, mesmo que o Congresso aprove a proposta, a CNTE
vai ao Supremo questionar juridicamente.
“É preciso que haja um fato para ser questionado na Justiça.
Enquanto não for aprovado, não há fato concreto. Mas já estamos juntamente com
partidos de esquerda, progressistas, analisando a constitucionalidade da
proposta do governo”, diz Heleno Araújo.
Mas, ainda antes da votação pelo Congresso, os educadores já
começam a pressionar deputados e senadores contra a aprovação da proposta do
governo.
“Agora estamos fazendo uma mobilização social e pressão
política e depois vamos à Justiça”, afirma o presidente da CNTE.
(CUT Brasil, Rosely Rocha com edição de Marize Muniz,
29/09/2020)
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