Professores estudam greve em estados que planejam volta às aulas; “é preciso discutir questões básicas antes de retorno”, diz APLB à Folha de S. Paulo
Professores
da rede pública anunciaram que farão greve em estados e municípios que
decidirem reabrir escolas sem um protocolo rigoroso de segurança contra o
coronavírus. Em ao menos duas cidades, Fortaleza e Búzios, paralisações já
foram marcadas.
Com a
flexibilização da quarentena e a retomada do funcionamento de comércios e
serviços em diversas regiões do país, governos planejam a volta das aulas
presenciais, já que as famílias, ao terem de retornar ao trabalho, não têm com
quem deixar os filhos. Na rede particular, há locais em que escolas já foram reabertas.
Mesmo
que a maioria dos estados e municípios ainda não tenham definido a data de
abertura das escolas, os professores já iniciaram a mobilização. É o caso de
Búzios, no Rio de Janeiro, onde os docentes decidiram pela paralisação das
atividades remotas por 72 horas depois de as equipes pedagógica e
administrativa dos colégios ter sido convocada a ir às unidades para discutir o
retorno.
“Não
vamos permitir que a volta às aulas aconteça sem segurança, sem planejamento.
Já começa errado pela forma de discutir o protocolo de segurança. Por que
convocaram as equipes a ir presencialmente? Não é seguro”, disse Martha Pessoa,
professora da rede municipal e diretora do sindicato.
Ela
contou que as 27 escolas do município têm turmas cheias e poucos espaços desocupados
que podem ser usados para garantir distanciamento seguro entre os alunos.
Procurada, a Prefeitura de Búzios não comentou sobre a paralisação ou sobre o
plano de reabertura das unidades.
Em
Fortaleza, que iniciou um plano de flexibilização da quarentena em cinco fases,
a previsão de reabertura das escolas é 31 de julho. No entanto, não foi
informado um protocolo de higiene ou distanciamento nas unidades. Por isso, o
Sindiute (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará) decidiu por uma
paralisação nesta quarta (10).
“Com
a reabertura de outros setores, a pressão em cima das escolas é grande.
Entendemos a necessidade do retorno, mas é preciso que isso seja feito com
segurança e planejamento”, disse Ana Cristina Guilherme, presidente do sindicato.
Para
ela, o desafio da retomada das aulas presenciais é ainda maior na educação
infantil (dos 0 aos 5 anos), em que a maioria das escolas funciona em imóveis
alugados, com pouca possibilidade de mudança para maior distanciamento ou
ventilação nas salas.
Ainda
sem uma definição de retorno das aulas presenciais, a APLB (sindicato dos
professores da Bahia) também sinalizou que pode decidir por greve se os
professores tiveram que voltar às escolas. “Muitas das nossas escolas não têm
sabão para os alunos, têm um único banheiro. É preciso discutir essas questões
básicas antes de pensarmos em qualquer retomada”, disse Rui Oliveira,
coordenador do sindicato.
Em
nota, a Secretaria de Educação da Bahia disse que as aulas presenciais estão
suspensas até 21 de junho e ainda não foi definida uma data para o retorno.
Presidente
da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Heleno Araújo
disse ver com preocupação a desarticulação entre estados e municípios para a
reabertura das escolas sem que seja estabelecido um protocolo de referência.
“Somando professores e alunos da educação básica são 55 milhões de pessoas. Não
podemos deixar que cada secretário, prefeito ou governador faça como bem
quiser, sem uma orientação”;
Para
Cecília Motta, presidente do Consed (Conselho dos Secretários Estaduais de
Educação), não há ainda nenhum estado que tenha definido a volta das atividades
presenciais. Ela disse que há apenas estudos para os protocolos a serem
seguidos.
“Os
professores ficam preocupados, mas ainda estamos em fase de discussão. Não
acredito que nenhum estado vá fazer essa volta de forma apressada, já que muito
vai ser alterado na rotina das escolas, da parte de higiene à pedagógica”,
disse.
Luiz
Miguel Garcia, presidente da Undime (entidade que reúne os secretários
municipais de educação), também disse avaliar como precoce a abertura das
escolas e a manifestação contrária dos professores. Segundo ele, um protocolo
de segurança deve ser definido em conjunto com o Ministério da Educação.
“Nosso
grande gargalo para a volta é o financiamento, porque vamos precisar comprar
equipamentos de proteção individual, reduzir as turmas. Não adianta estabelecer
sozinho um protocolo, se não houver recurso no município para implementá-lo”,
disse. Questionado, o MEC não respondeu se está elaborando um plano para as
redes de ensino e se pretende garantir recursos para a volta às aulas.
Cálculo
do Consed estima que, até junho, apenas para as ações emergenciais, os estados
gastaram R$ 1,9 bilhão durante a pandemia. Entram na conta os investimentos
para recursos digitais para aulas online, formação de professores para ensino
remoto e alimentação. O aumento da despesa é visto com preocupação, já que há
uma previsão de queda de até R$ 20 bilhões para a educação básica.
Fonte:
www.aplbsindicato.org.br
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