Carregando cruzes, servidores demitidos pelo prefeito fazem nova manifestação no centro de Ilhéus


Os servidores municipais de Ilhéus, que foram demitidos pelo prefeito Mário Alexandre no início de janeiro último, realizaram uma nova manifestação de protesto no centro da cidade, na manhã desta quinta-feira, 28 de fevereiro. Há dois meses sem salários, já que foram afastados da folha de pagamento, por decreto, e alegando dificuldades, os trabalhadores se reuniram na sede do sindicato da categoria (Sinsepi), na Rua Carneiro da Rocha, de onde saíram, portando cruzes, em direção à Praça Cairu.
O cortejo foi auxiliado por um carro de som do sindicato dos professores – maioria profissional atingida pelo decreto. Na Praça Cairu, mostraram as cruzes e em seguida as fincaram no chão. Os servidores, na faixa etária entre 55 e 65 anos de idade, permaneceram no centro da praça, debaixo de forte sol, por cerca de uma hora. A sindicalista Enilda Mendonça declarou que a manifestação foi intitulada “A Vitória da Vida sobre a Morte.”

O ato foi acompanhado pelos presidentes do Sindicato dos Servidores e Funcionários Públicos de Ilhéus (Sinsepi), Joaques Silva, da APPI\APLB, Osman Nogueira, e do Sindguardas, Pedro de Oliveira Santos. Admitidos antes de outubro de 1988, os servidores demitidos são detentores de contratos legais, já que à época não havia obrigatoriedade de concurso público.
Além de manifestação de protestos e recursos judiciais para reverter a decisão, os sindicatos da categoria realizam campanha de arrecadação de alimentos para doação aos trabalhadores que ficaram vulneráveis após as demissões. Presente à manifestação, o vereador Paulo Meio Quilo disse que assiste a isso tudo com muita tristeza.

“Nesse conjunto de servidores, tenho dois irmãos que sempre testemunhei, há mais de 30 anos, fazendo todo tipo de sacrifício para ir dar aula na zona rural, quando os caminhos possuíam maiores obstáculos. Não tenho palavras para esse tipo de injustiça. É uma situação muito humilhante”, declarou o vereador.


Marlene da Saúde – A servidora Marlene Santos de Jesus, a conhecida “Marlene da Saúde”, empunhou a cruz durante toda a manifestação. Ela virou um dos símbolos de resistência do movimento porque, ao garantir, publicamente, que iria utilizar todos os recursos judiciais cabíveis para evitar as demissões, o prefeito Mário Alexandre se referiu à Marlene como um exemplo de servidora, que lhe aplicou vacinas durante décadas, e que “jamais faria isso.” Alguns dias depois, fez: assinou o decreto de demissão e o publicou na madrugada do dia 8 de janeiro, gerando uma série de problemas para os servidores atingidos, inclusive Marlene, com 32 anos de dedicação à rede básica de saúde.

Marlene já trabalhou no Posto de Saúde Herval Soledade, no Pontal, no Sarah Kubitschek, no Malhado, e nos últimos anos estava lotada na Rede de Frios, no antigo Sesp, onde ficam armazenadas as vacinas disponíveis para a população. “Estou vivendo de cestas básicas e com muita dificuldade para pagar luz, água e outros compromissos. Minha esperança é retornar ao meu trabalho, com a dignidade de sempre. A minha decepção com o prefeito Mário é enorme”, desabafou ela.

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