DEU NO JORNAL AGORA: Uma história sobre educação e censura

A trapalhada do Secretário de Educação de Ilhéus de censurar o Jornal dos alunos da Escola Municipal do Salobrinho continua rendendo. Vejam a matéria do Jornal Agora que circulou no último final de semana (21 a 23 de julho de 2007).
Uma história sobre educação e censura

Com apoio do Sindicato dos professores, o jornal foi reimpresso, sem o nome da Secretaria de Educação de Ilhéus

Em épocas de discussão sobre a possibilidade de retorno da censura, tendo em vista a tentativa do Governo Federal em avaliar previamente o conteúdo de toda a programação transmitida pelas redes de televisão no Brasil, a Prefeitura Municipal de Ilhéus reforça as fileiras dos maus exemplos, mesmo que a repressão tenha sido à versão impressa da liberdade de expressão. Mas vamos aos fatos:
Após vivenciar as diversas etapas da construção de um jornal impresso, ver somadas discussões sobre comunicação jornalística e a informação comercial, liberdades e necessidade de lucro, os estudantes da Escola Municipal do Salobrinho preparavam-se para o lançamento de um produto laboratório intitulado Jornal Interativo, com 12 páginas e formato ofício, seria esta a segunda edição...seria, pois não foi.
Chegado o dia 21 de junho, às 13he30min, o secretário municipal da Educação de Ilhéus, Almir Gonçalves Pereira, acompanhando de sua trupe, chegou à unidade escolar e, além de decretar a impossibilidade de circulação do Jornal, confiscou aproximadamente dois mil exemplares da edição. A truculência da ação chocou a população do bairro, margeado pela BA-415, e sede da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).
Não atendendo aos protestos dos professores, de alguns alunos e mesmo da coordenação pedagógica, que até então compunha sua própria equipe de trabalho naquela unidade escolar, o secretário da Educação deu ordens para que fossem recolhidos os exemplares, ao tempo em que utilizava um computador da própria escola para digitar, improvisadamente, o comunicado que informava a suspensão “temporária” da edição. Entre as justificativas, a não supervisão pedagógica do projeto por um membro da equipe administrativa da própria Secretaria. Com as incoerências e inconsistências expressas nas próprias ações e reações, resta a reflexão sobre o papel da educação e dos gestores municipais da educação, se é que a Prefeitura de Ilhéus comunga com a opinião sobre a esta mesma educação ser a única saída viável para um novo panorama nacional.
Mais que profissionais com currículos quantitativamente montados, é necessário gente. Gestores que entendam a pedagogia participativa, o marco referencial introduzido pela pedagogia de projetos, mas também o olhar transversal que rompe paredes e salas de professores e diretores, da mesma forma que transpõe muros e grades escolares em busca da comunidade externa. É necessário delegar poderes a quem tem poder de raciocínio e de sensibilidade, sem medidas diferenciadas, muitos menos forças sobrepostos. A presença ou o déficit de razão, executada muitas vezes pelo simples bom senso, e da sensibilidade crítica, nunca motivada pelo senso comum, são elementos responsáveis pela composição do caráter do homem e da mulher, mas também do gestor, do pesquisador e até mesmo daquele que censura. É preciso lembrar que a própria caneta que assina a liberdade, sentencia a morte, quando muito de sonhos e esperanças.
O fato no Salobrinho foi resolvido à revelia. Mesmo com a informação que a Secretaria Municipal, através de uma equipe especializada, iria reeditar o Jornal, que ironicamente chama-se Interativo, um grupo de professores uniu-se ao Sindicato dos Professores da cidade e custearam a reimpressão do exemplar. A nova versão chegou às ruas com o peso histórico de torna-se um alerta pela luta contra o retrocesso.

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